Portugal está cansado de não poder parar

terça-feira, janeiro 30, 2018




Hoje escrevo diretamente para ti.



Tu que és mãe solteira e carregas toda a tua casa às costas. Para ti que estás desempregada, ou para ti que com por alguma vicissitude da vida, ganhaste “peso nos braços” para lá das tuas medidas.


Escrevo para a mãe-coragem, a irmã-amor, ou para a avó-heroína.


A verdade é que por muitos artigos que saiam na revista “Visão”, a declarar Portugal como o melhor sitio do mundo para viver, há aqui gente já sem força sequer para se mover.


Andamos todos cansados, todos. Por um motivo ou outro, de cada vez que me encontro com um amigo diferente no café a conversa é a mesma, “estou bem, estou cansado”. A vida está a cansar-nos.  Vivemos a correr para uma meta cujo o propósito nem eu sei qual é, nem de atingir o quê.


No trabalho, sentimos que ou damos tudo, ou haverá sempre outro “alguém” para nos substituir, no trânsito atropelamo-nos uns aos outros em insultos e agressividade gratuitas.


Andamos severamente absorvidos em objetivos errados, num contrarelógio constante e onde o tempo é o nosso maior rival.


 Chega. Até onde? Até quando?


Claro que temos de trabalhar, claro que temos de nos esforçar e é fulcral que sejamos cada dia pessoas melhores em diferentes pontos, mas essa obrigação tem de vir de dentro.


Estamos a tornar-nos seres insaciáveis. Viciados no trabalho e na vontade de querer.


Sabes? Para sermos felizes, temos de querer sê-lo. Aceitar de livre-arbítrio as coisas boas que o Universo, ou uma qualquer outra coisa nos envia. Temos de acordar e pensar todos os dias na sorte que temos em ter a pessoa X ou Y na nossa vida. No prazer que é vivermos num Portugal quente e confortável, onde a sardinha é fresca e a música se faz nos recantos populares das ruelas escondidas.


Temos direito a beber a nossa tão cobiçada cerveja gelada e, de contemplar o pôr-do-sol numa dessas esplanadas da moda feitas a pensar nos estrangeiros que nos invadem e glorificam as cidades.


Temos a obrigação de viver, respirar fundo, usufruir e, acima de tudo, de sabermos quando deveremos parar.


O nosso corpo é uma máquina fantástica, mas até ele por vezes precisa, necessariamente, de um refresh.


Dá-te ao luxo de, pelo menos uma vez na vida, respirares fundo sem te lembrares do tempo que isso te faz perder. E esquece os outros, esquece o que possam dizer, o que possam pensar, ninguém é mais importante do que tu.


Vive. Vive muito. Vive (com) tudo. E nunca em tempo algum percas essa vontade de viver.




Morte, sua grande cabra.

sexta-feira, novembro 24, 2017


Ontem adormeci e Portugal tinha perdido em vida um enorme artista, hoje acordo e sei exatamente da mesma notícia relativamente a um enorme jornalista de todos os tempos.

Como assim? Ensinam-nos a viver a amar os outros, a tê-los como exemplos a seguir, e de um momento para o outro tiram-nos da vista, como se nunca antes os tivéssemos tido por perto.

Deixam-nos repletos de histórias para contar e com gargalhadas marcadas na memória, capazes de nos acordar da noite mais profunda, mas e depois?

Que merda é esta de viver a explodir de amor por um alguém que se dissipa, assim?

Não queria um aviso prévio, não é calculável nem de bom tom pedi-lo, mas adorava que a morte não fosse um monstro tão grande de lidar.

Queria que os olhos se mantivessem tão perto, como o coração faz questão de “bater o pé” para se manter.

Talvez seja por amar tanto viver, que a vida acaba por me assustar tanto. 

Talvez porque perdi o amor maior que a minha alma conheceu. Talvez por não poder mais ver quem por tudo daria, para que aqui estivesse.

A morte é uma grande cabra, dissimulada, sorrateira. Alimenta-se das fragilidades e da dor de todos e esconde-se atrás de religiões e crenças, para que a possamos ver como aceitável, mas não há maneira de viver bem dias tristes, e não há forma feliz de ver aqueles de quem gostamos, partir.

A vida é tão boa, pena que seja assim.








Deixa o coração brilhar

terça-feira, novembro 14, 2017


Tenho estado tão feliz, que me tem sido difícil escrever. Quem está desse lado e também desabafa com o papel, sabe do que falo.

A verdade é que me ando a conhecer, ando-me a descobrir e a crescer com as pessoas certas.

Fará isto sentido? Na verdade, creio que estou a criar o amor mais trabalhoso de todos: o amor próprio.

Quem de nós nunca ficou sem ar de tanto amar? Quem nunca se perdeu e, pensava que não mais se voltaria a encontrar? Que atire a primeira pedra quem nunca sentiu o abismo a tocar-lhe na palma da mão.

Sabem? o amor de alguém ou por alguém, por vezes é a coisa mais tóxica que a nossa vida tem. E não, não é um contrassenso. Não existe amor sem voos despenhados; Com rumo ou direção; Sem a vontade incontrolável de ter, de querer; Porque amar será sempre a fórmula mais irracional de viver.

No entanto, é quando pomos os pés no chão, e damos voz à “razão”, que as coisas podem efetivamente tornar-se claras- temos só de ver o mundo com os olhos de “quem nos vê” e nos quer bem.

Precisamos de esquecer aquele corpo, aquela pele. 

É aí que reside a nossa coragem: quando (finalmente) perdermos o medo e apaziguamos a vontade.

Uma coisa é certa, a pessoa merecedora do nosso amor, será sempre aquela que não nos tentará mudar. Será quem nos aceitará, e quem nos acrescentará constantemente algo de positivo à nossa vida. É essa a verdadeira prova do amor: quando duas pessoas crescem, lado a lado, e têm orgulho e brio de o fazer.

Agora por aqui vou continuar, por mais fantasmas que se atravessem, por medos impulsivos ou questões vindas do desconhecido, vou sempre escolher amar a vida com tudo o que ela me der para ver, tocar, conhecer e viver.


E caramba, não há adrenalina maior, do que adorar por aqui andar. 



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